Esta noite passava na Sic Notícias um documentário sobre o consumo de ópio no Afeganistão.
Impressionou-me a forma inocente como aquelas mulheres dão ópio aos filhos bebés; se eles choram, se tossem, se estão doentes se não querem dormir, se incomodam e não deixam as mães tecer é do ópio que se socorrem para os acalmar ou lhes tirar as dores.
Muitas destas crianças já nascem viciadas ou ficam viciadas com o leite da amamentação.
Alguma destas mulheres estão agora a entrar em centros de desintoxicação. Mas são ainda muito poucos os que existem. Na província de Balkh, célebre pelos tapetes, onde ouso do ópio é uma tradição antiga, a quatro horas de distância do aglomerado urbano mais próximo, junto das montanhas, existe um desses centro de desintoxicação, construído em terra, tal como as casas da região.
No documentário mostrava-se uma mulher que entrava no programa de desintoxicação com a filha de 3 anos. Em casa, deixara outra criança um pouco mais velha. Explicava que a morte de outra filha, acabada de nascer, a quem teve que cavar a cova, a deixara sem força, com o coração doloroso e que o ópio a ajudava a superar a dor.
Diziam-se muito mais coisas nesse documentário, nem sempre fazendo muita lógica para os modos formatados pela visão ocidental de ver o mundo.
É pena que sejam alinhadas na noite tardia as imagens que nos ajudam a reflectir sobre o mundo. Faz, obviamente, parte de outros ópios que nos dão para anestesiar as convicções, cujas imagens, também, se remetem para a noite alta. Ou se ignoram; como as da grande manifestação que ontem desceu a Avenida.