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01/12/2014

Cabeça de touro de Pax Iulia (talvez) proveniente da Rua do Touro


            Em 2006 vi na Praça de Armas do castelo de Beja o touro que aqui se reproduz. Estava colocado em cima de um estrado de madeira que deve ter servido de suporte ao seu transporte desde o local de achado e com restos de fitas e de plástico preto que o terão embrulhado.
           Creio ser este o touro que Leonel Borela indica ter sido recolhido na rua do Touro :“em Agosto de 2005, próximo dos números de polícia 15 e 13, um capitel de folhas lisas coríntio, semelhante ao d “Os Infantes” e uma cabeça de Touro muito bem cinzelada (salvaguardadas no castelo), semelhante às duas que se encontravam embutidas na abside da igreja de são João Baptista (5),actualmente expostas no Museu
Touro de Pax Iulia (Beja)
Início do Séc. I d. C
Não encontroamos nenhuma publicação  que apresente o estudo desta peça de muito boa qualidade, datada da época de Augusto.
É certo que se trata de um exemplar com características muito similares às daquele  que está exposto na parede exterior do Museu: é  uma cabeça de touro imponente no qual não vimos nem chifres nem orelhas (não tivemos oportunidade de verificar se estes existiram e se eram de encaixe); apresenta narinas bem abertas e olhos vigorosos com íris e pupila bem marcada. O  pelo bem encaracolado na testa, o focinho musculado e a pele enrugada conferem ao animal um  aspecto pujante, e à peça uma equilibrada harmonia.
Sobre a função destes touros duas hipóteses se têm apontado: chave de fecho de arco, como seria em Mérida; friso angular em edifício do modo que Leonel Borrela desenhou com os touros antes conhecidos http://forum-romano-de-beja.blogspot.pt/2010/12/restos-monumentais-de-pax-ivlia-i-friso.html e colocação nas muralhas como acontece em Volterra.
Não sabemos qual o exacto paradeiro desta belíssima peça que poderia ser uma das 10 cabeças de touro referidas por André de Resende ou uma mais além dessas.


29/11/2014

Eros dormindo sobre pele de leão/villa romana de Pisões

Eros villa romana de Pisões*
Séc. II d. C
Em 1992 Helena Paula Carvalho publicava uma peça escultórica, inédita, de Eros alado adormecido, proveniente da villa romana de Pisões.
Esta peça, que representava uma criança recostada sobre a pele de leão de Nemeia, com as pernas cruzadas e com um lagarto ao lado do corpo, data do século II, da época dos antoninos.Nessa altura encontrava se no posto de Turismo de Beja, então situado na rua Capitão João Francisco de Sousa, donde desapareceu há cerca de 14 anos. Do desaparecimento desta peça escultura de grande qualidade plástica, eventualmente proveniente de uma oficina de Roma, dá conta Leonel Borrela num apontamento publicado no seu blogue “Beja cidade monumental em 28 de Maio de 2010.

Este tipo de figuras de crianças é muito popular em época romana e constitua motivo usual no reportório das esculturas decorativas da Hispânia, sendo conhecidos vários exemplares provenientes de villae.
Quem dera pudéssemos trazê-la de volta!


* Foto in https://www.academia.edu/1272338/ESCULTURA_ROMANA_DE_EROS_DORMIDO_DE_LUCENA_CÓRDOBA_

27/11/2014

O togado de Pisões/ Pax Iulia

Escultura de togado que em 2005 vimos na Ermida de S. Sebastião. Publicada pela primeira vez por Helena Paula Carvalho a quem foi dada indicação de que teria sido recolhida num monumento funerário da villa romana de Pisões, esta peça, apesar de muito fragmentada, parece  inscrever-se no conjunto de togados ao qual pertencem o de Myrtilis (Mértola) e os de Emerita Augusta (Mérida), datado da época de Cláudio.
O facto de ter aparecido num mausoléu em Pisões — será aquele cujas pedras das paredes e os frontões decorados se está a perder junto a uma monte em Penedo Gordo?— levanta algumas questões interessantes, as quais trataremos em seu tempo. Seria importante saber a cronologia do mausoléu de onde foi retirado  para se poderem retirar informações desta magnífica peça.
Entretanto, a peça  devia desenterrar-se da reserva  e ser exibida em público.



25/11/2014

O Cante Alentejano património da Humanidade

Vila de Frades, Adiafa
Campanaha Arqueológica de S. Cucufate, 1982

É incontestável que há uma arqueologia antes e uma arqueologia depois das escavações luso-francesas de Coinimbriga; é evidente que que em S. Cucufate se inicia uma nova abordagem às questões do património.
A arqueologia do sítio incluia o conhecimento dos locais de habitação e os contextos de trabalho das populações da região do sítio arqueológico. A investigação compreendia a descoberta da  cultura e a participação nas manifestações culturais dos povos da região.
O desfile de grupos de cantares pelas ruas de Cuba; as festas de Barrancos e as de Portel, a visita às adegas onde se fazia vinho em talha, a açorda de peixe do rio nos moinhos do Guadiana, eram apenas algumas das tarefas inscritas no programa das campanhas arqueológicas.
A Adiafa, rigorosamente organizada no final de cada campanha, trazia às magnificas ruínas de S. Cucufate o som do Cante Alentejano pela voz dos grupos de Vila de Frades e de Vidigueira.
No som forte das vozes daqueles homens rigorosamente vestidos a villa romana de S. Cucufate transformava-se à sua dimensão de património rural alentejano no mundo.

02/11/2014

César de Pax Iulia




Em 2007, o busto em mármore de um homem foi retirado do rio Ródano (FIG.1). O arqueólogo Luc Long apressou-se a sugerir que esta bela peça seria um novo tipo de retrato de Júlio César e que dataria de cerca de 46 a.C.. Teria sido executado em tempo de vida do general e, por isso, a mais antiga representação conhecida de Júlio César.
O seu achado constituía, pois, um acontecimento arqueológico de uma extrema importância. As críticas a esta atribuição não tardaram e foram, inclusive, pronunciadas num debate organizado no Louvre com especialistas pró e contra esta identificação. 
A maior crítica centrava-se na falta de elementos de semelhança com os tipos de bustos de César conhecidos. Fleminng Jonansen, especialista dinamarquês, afirmou que como não havia na época de César nenhum tipo de retrato oficial, como acontecia ao tempo de Augusto, se aceitava como normal encontrar grandes diferenças entre as várias representações de César e, também,  que os retratos realizados em França fossem diferentes dos retratos romanos ou italianos. (http://www.louvre.fr/sites/default/files/medias/medias_fichiers/fichiers/pdf/louvre-programme-detaille-table-ronde.pdf)

Por seu lado, Christian Goudineau, professor de História Antiga no Collège de France, argumentOu a ausência de semelhanças deste retrato com os conhecidos, com o facto deste  ser mais antigo, ter sido executado antes dos outros, que são póstumos ou cópias do período augustano.
Sobrepondo as opiniões favoráveis às contrárias a credenciação do César de Arles ( ou do Rhône) tomou o seu caminho.
Em 2009  quando o Musée d'Arles Antique, organizou uma exposição intitulada  César, le Rhône pour mémoire, expõe-se pela primeiravez ao público "Um busto de César de grande tamanho em mármore, único na Europa" como em 2008 a  ministra da cultura, Christine Albanel, o havia designado.
O Louvre recebeu a exposição em 2012, entre os meses de Março e Junho, e juntou às peças do Ródano o busto de César de Tusculum , que está no museu de Turim (FIG: 2), e que à data era considerado o único exemplar que reconhecidamente representa César, para que houvesse a possibilidade de confrontar os dois retratos.
O único retrato de César em vida e o exemplar que servia de comparação foram vistos por 400 mil pessoas.
 Em 1900 foi encontrado em Beja, na muralha, um busto varonil de um homem de meia idade, com uma cicatriz no lado esquerdo (FIG.3). Está no Museu Regional de Beja, encaixado em uma base de gesso, exposto num nicho meio escondido, numa ala do claustro.
Vasco de Souza afirma que "na sua concepção, esta cabeça faz recordar os retratos de Júlio César".
Comparando a cabeça de Beja com outros retratos conhecidos de César, nomeadamente o mais emblemático, o de Tusculum, que sem contestação é identificado com César, as semelhanças são evidentes: o formato dos lábios, em que se destacam as covas nos cantos; as rugas profundas partindo das abas do nariz; as rugas da testa; a posição de olhos e as sobrancelhas arqueadas; o queixo saliente e o penteado são, apresentam similitudes claras.
Suetónio descreve Júlio César como tendo rosto largo, formato em que se enquadra melhor o retrato de Beja que a face mais triangular do retrato do museu de Turim.
São, também, evidentes as semelhanças do retrato de Beja com o de Arles. A distinta qualidade das ilustrações pode não mostrar com rigor as proximidades, mas elas são bem claras.

O retrato de homem de meia idade de Beja reúne, portanto, todas as condições para ser uma representação de César. Desta opinião é, também Margarida Maria Almeida de Campos Rodrigues (O retrato oficial Romano no tempo da Dinastia Júlio-Cláudia(https://www.academia.edu/2073514/O_RETRATO_OFICIAL_ROMANO_NO_TEMPO_DA_DINASTIA_JÚLIO-CLÁUDIA)
Se se trata de uma cópia da época Augustana é, do ponto de vista da representação e do seu valor, absolutamente indiferente, pois que datam desta época boa parte dos raros retratos conhecidos de César.
Desde há algum tempo que vimos tentando dar visibilidade a este retrato de Pax Iulia. Não é por falta de qualidade da peça, nem por falta de argumentos que justificam a sua importância que não logramos que se retire do nicho onde está "escondida" (curiosamente no mesmo nicho onde está a designada "Vénus de Beringel", outra escultura de grande qualidade) e transferida para local onde seja feita justiça à sua importância.
As várias propostas de valorização do César de Pax Iulia, por alguma razão, esbarram em negações que se não compreendem nem se justificam.
Dá vontade de pensar que se vendêssemos a peça aos franceses eles tratariam imediatamente de mobilizar milhares de visitantes para verem mais um retrato de César.
Ministros e Secretários de Estado, Directores de Museus e outros estariam, muito provavelmente  presentes na  apresentação pública. Para Portugal, talvez fosse interessante negociar a venda e conseguir verbas para as obras do Museu Regional Rainha D. Leonor.
Quem sabe, não receberia o Museu obras necessárias e urgentes e o César de Pax Iulia lugar digno de exposição.

Mas…, Beja merece ter esta peça e valorizada.