Pesquisar neste blogue

20/07/2017

Arqueologia do Concelho de Serpa / 20 anos depois.


Há 20 anos, em 1997 publicava-se a obra que haveria de apresentar, de modo interpretado, os dados arqueológicos revelados na superfície da terra do concelho de Serpa.

"A carta Arqueológica de Serpa nasceu de uma proposta da Câmara Municipal a um dos autores quando este se dirigiu à entidade solicitando apoio para trabalho de prospecção no concelho, tendente integrar esse estudo num mais abrangente sobre o território de Pax Iulia".

O autor era Maria da conceição Lopes e o autarca João Rocha, actual presidente de Câmara de Beja.

Os apoios para o trabalho de campo permitiram percorrer todo o espaço do concelho e para nele participar para a contratação de Pedro Carvalho e Sofia Gomes.

"A importância dos dados recolhidos, quer por si mesmos, quer pelo conjunto, tornaram evidente que não era legítimo qua apenas se elaborasse um catálogo de sítios e achados do concelho, cuja tradução, enquanto instrumento de trabalho, serviria especialistas interessados na arqueologia da região e a autarquia enquanto gestora dos seus bens arqueológicos".

A Arqueologia do Concelho de Serpa haveria, por isso, de reunir especialistas de várias arqueologias para colaborar na publicação dos dados Jorge Alarcão, José de Encarnação, Raquel Vilaça e Helena Catarino.

A Arqueologia do Concelho de Serpa é, ainda hoje, uma marca importante no registo e divulgação arqueológica de qualidade. Uma ferramenta de trabalho, certamente desactualizada no que respeita ao número de sítios, sobretudo pelos trabalhos de Alqueva (para os quais foi profunda e globalmente usada, refletindo bem o carácter público desta investigação) mas, ainda assim, absolutamente actual pelo método de recolha, modo de registo e qualidade de divulgação.

Feita num tempo em que os computadores eram objectos de luxo, a revelação de fotos caríssima, a qualidade gráfica e ilustrações da obra marcam, também elas, a diferença relativamente ao que então se fazia.

A Arqueologia e a sua importância social, ou a transferência para a comunidade, como hoje se diz, não é para nós, uma moda ou uma postura de interesse, está bem claramente refletida nesta obra, quando disso se não falava.
" ...a nossa intenção e a da autarquia foram coincidentes. Deveria ser preparado um trabalho que satisfizesse simultaneamente os interesses da comunidade científica, da autarquia e da comunidade em geral . Isto é, sem perder o rigor científico, era necessário disponibilizar, sob forma de publicação uma visão do concelho e da sua arqueologia".

"Percorrido o campo, registadas as memórias, proposta a realidade possível dos homens de outros tempos, alguns dos quais conhecemos pelo nome, imortalizado nos seus epitáfios ou no de algum dos seus, ou nos votos que fizeram aos deuses, eis oq eu, sob a form de livro, devolvemos, aos homens de hoje e ao concelho de Serpa"


Retemos sempre o que  escreveu o Professor Jorge de Alarcão na página de apresentação


A villa branca de Serpa, tão cheia de Luz, tem escuro o seu passado.... Em cinco. meses de trabalho de campo , Pedro Carvalho e Sofia Gomes, sob orientação de M. Conceição Lopes, identificaram três centenas de moradas que o delgado chão alentejano mal oculta e todavia jazem deslembradas. ... Não terão visto tudo. Mas quem pode pretender ter feito uma inventário exaustivo do património Arqueológico? Sempre um pastor, um lavrador , um caçador que são homens mais chegados à terra, descobrirão novos lugares, denunciados por talhões ou por escórias, por louças estilhaçadas ou moedas.

              Fica feito o inventário , que anuncia muitos lugares de interesse: dormiam quase todos na quietude de um esquecimento do qual esta obra agora os faz sair."









16/07/2017

A civitas de Pax Iulia: percursos e debates...


Exactamente há dezassete anos, em 16 de Julho de 2000, entreguava-se nos  serviços académicos da UC a dissertação de doutoramento intitulada “A Cidade Romana de Beja , percursos e debates acerca da “civitas” de PAX IULIA” para que seguisse o processo tendente a ser defendida em provas públicas na Universidade de Coimbra.

Em 15 de dezembro de 2000 foi o doutoramento concluído com a aprovação com louvor e distinção por unanimidade.
Nessa atura ousou-se  entregar dois volumes em papel e os restantes sete em CD. Nunca ninguém tinha entregue na FLUC as dissertações de doutoramento ou mestrado em formato digital e o desencadear do processo obrigou a um conjunto de diligências tendentes a confirmar essa possibilidade. Foi aceite e abriu precedente.

Este era o segundo trabalho sobre a cidade de Pax Iulia.



Em 1992, em Fevereiro, apresentei para prova de avaliação científica o trabalho “ A sigillata de represas. Tratamento Informático” .

Pela primeira vez  no mundo, apresentava-se uma base de dados para conjuntos de cerâmica romana. Eram 32 .000 peças provenientes da villa romana de Represas da colecção de Fernando Nunes Ribeiro. A villa foi destruído e, a meu saber, além de uma carta de repulsa pela destruição e de protesto pelo comportamento das instituições que tutelam a arqueologia, não conheço outras preocupação. 
Era uma villa romana absolutamente fantástica  e diferente de todas as outras, pois era um entreposto comercial, onde, inclusive, se reconheciam vestígios da centurião romana. Havia um estudo continuado desta villa e sabíamos muito do subsolo porque além da fotografia aérea, em 1990, gastámos 250 euros para, pela primeira vez em Portugal, se usar prospecção geofísica aplicada à arqueologia.
Do primeiro livro, a utilidade pode medir-se, por exemplo, pela quantidade de vezes que se refere na bibliografia dos trabalhos do Alqueva e a qualidade e importância pelas referências nacionais e internacionais  O trabalho de campo, que deu origem a uma carta arqueológica ,  o qual constitui o segundo volume da tese, foi feito com um projecto da FCT, dinheiro próprio e o apoio do Presidente da Câmara de Serpa, João Rocha, para a Carta Arqueológica de Serpa e o do saudoso Presidente de Câmara de Vidigueira, Carlos Pinto Goes, para a Carta Arqueológica de Vidigueira.

Da Câmara de Beja recebi 200 euros para ajudar a pagar a publicação que se fez em 2003, a troco de 500 livros. 

Não s sabe onde estarão esses livros. Foram levado  para a Biblioteca José Saramago e nunca mais ninguém soube qual o destino que lhe foi dado. 
Como nesse ano fiz um grande protesto, que chegou aos jornais e televisão, (veja-se post anterior)  contra o que se passava na Praça da República, talvez os livros tenham desaparecido no ruído do meu protesto.

Hoje, dia 16 de Julho de 2017, termino um livro sobre a escultura romana de Pax Iulia. Haverão de faltar exemplares que estarão algures por publicar — hoje já se não faz o que Abel Viana fazia e torna-se difícil fazer trabalhos de síntese (e, sobre o método de Abel Viana falarei um dia destes). Haverá, certamente, quem se apresse a tomar como mais importante esse facto  que a importância dos que se reuniram e estudaram. 
Brevemente teremos publicação, com meios próprios e com a ajuda de amigos que fazem o design, com o apoio de muitos especialistas e outros amigos. 
Quando  iniciei este livro pensava que este era o início de uma nova fase de trabalhos sobre Pax Iulia. Hoje, 25 anos depois do primeiro, realizei  que que pensava...  
Lutar tanto também cansa!