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01/04/2013

Retomando Pax Iulia.
Retomamos a escrita em "Pouco Frequente" como mais um exercício de reflexão sobre a civitas de Pax Iulia.
Pode estranhar-se que após uma tese de doutoramento, na qual se invocou o debate como o modo mais clarividente para estruturar o conhecimento sobre a cidade romana de Beja, se insista em percursos e debates em torno de Pax Iulia.
Mas, é que, as recentes escavações que temos desenvolvido numa parte da cidade, as quais, ao contrário de outras que prefiguram buracos por toda a cidade, têm como objectivo conhecer e fazer desse conhecimento instrumento de valorização e desenvolvimento da cidade, revelaram circunstâncias que exigem que continuemos a reflectir.
Voltaremos ao início para que os argumentos não esbarrem em preconceitos e ideias feitas. Começaremos, portanto, por deixar aqui grafados alguns elementos que importa trazer para este forum.
Por ser na arquitectura, ou com base nela que muita coisa de discute importa que retomemos a cidade na sua dimensão arquitectónica e justifica-se que a tomemos como ponto de partida.
Embora, como veremos mais adiante, não seja apenas na cidade que se encontram os edifícios de carácter monumental, é neste cenário urbano, local de concentração das funções governativas, que se constroem edifícios públicos e privados, em conjuntos monumentais ou isolados e, naturalmente, onde esta arquitectura de tipo monumental apresenta maior versatilidade de formas e estilos e mais ampla variedade.
De plano repetido ou inspirado nos modelos canónicos difundidos por Roma, sobretudo no De Architectura, manual que Vitrúvio realizou ao tempo do imperador Augusto, onde pormenorizadamente se dão instruções técnicas e metodológicas sobre onde e como construir, tendo em conta os locais de construção e os propósitos dos edifícios, os edifícios surgem como parte integrante de programas urbanísticos que assumiam características próprias resultantes da adaptação à topografia dos lugares e à ocupação anterior ou à ausência dela, por exemplo.
 Os edifícios públicos ocupavam posições estratégicas na malha urbana da cidade. Enquanto objectos arquitectónicos, alguns constituem obras de inegável qualidade artística, nomeadamente quando se articulam com programas decorativos e contextos cenográficos que amplificam a sua elegância, a delicadeza do contorno, o gosto dos materiais utilizados, o carácter emblemático, enfim, a beleza e a majestade das formas arquitectónicas.
 O forum era o monumento principal das cidades, um centro político-administrativo, religioso e comercial onde os edifícios de suporte a estas actividades, basílica, cúria, tabernae, se organizavam em torno desta praça de secção rectangular na qual um templo definia o seu eixo maior. Todas as cidades tinham o seu fórum. Até mesmo alguns dos aglomerados urbanos secundários tinham o seu fórum ou, pelo menos, uma praça com algum edifício de prestígio.
As hipotéticas reconstituições do fórum de Pax Iulia (Beja) não têm tido satisfatória resposta nas poucas escavações científicas que se têm podido fazer na que é, politicamente, uma das mais importantes cidades romanas da Lusitânia.
Um conjunto de capitéis encontrados na cidade e expostos no museu regional D. Leonor terão, certamente, pertencido ao fórum da colónia romana.
 Um grande capitel compósito terá pertencido ao templo; um outro, também compósito mas de menor módulo, poderá ter pertencido à basílica, bem como um capitel compósito de três frentes e um capitel coríntio, de módulo menor que os referidos, talvez tenha pertencido a um pórtico. 

Estes capitéis lavrados em mármore de Trigaches deixam-nos suspeitar da volumetria e da qualidade decorativa dos edifícios do fórum que, apesar da incúria com que alguns trabalhos arqueológicos recentes têm ignorado, ou mesmo destruído, elementos estruturantes, se espera que as políticas de património permitam que um dia se localize materializado.