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01/01/2015

Ano Novo, Azeite Alentejano e Tesouro de Baleizão.

http://www.museuarqueologia.pt/images/correio_manha_17_04_05_n.9458g1.JPG
Pesquisava na net sobre as produções actuais de azeite no Alentejo e deparei-me com informações que me atiraram para 10 anos atrás, quando os campos do Alentejo ainda não tinham sido invadidos pelas oliveiras bonsai que agora lhe cobrem a terra e que, de acordo com alguns, são hoje a riqueza da terra.
Uma notícia, relativa à Sociedade Agrícola Encosta do Guadiana, Lda (Herdade Paço do Conde), mereceu particular atenção. Na apresentação da propriedade referia-se “Nos seus terrenos foi descoberto o famoso Tesouro de Baleizão, constituído por artefactos de há 3 mil anos, em ouro. Agora, a riqueza sai das árvores, a mais importante cultura nas propriedades” http://visao.sapo.pt/petroleo-verde=f611538#ixzz3KOp4mxTi e afirmava-se que “A descoberta do “Tesouro de Baleizão”, (ver na internet) atesta que um longo caminho histórico foi aqui desenvolvido e que muito há ainda a estudar sobre o mesmo”.
O tesouro de Baleizão, no qual um dia me empenhei para que não saísse do país, valeu-me um processo crime, sob a acusação de tráfico de obras de arte, movido por garbosos e valentes jovens turcos ao serviço do IPA, apoiados por seus valorosos e, também, garbosos dirigentes,
Valeu-me, também, anos depois, um louvor à actuação, ditado pelo juiz que pronunciou o arquivamento do processo por “inexistência de qualquer indício ou prova" salientando a articulação com o Museu Nacional de Arqueologia, na defesa deste património ao impedir a sua saída do país, ”.
Muito se escreveu nos jornais, e na televisão Clara Ferreira Alves até disse que um qualquer “chico esperto teria enganado os pobres trabalhadores que acharam o tesouro”. Mas nunca a história se contou tal qual ela foi de facto.
Passados 10 anos, é altura de começar a contar toda a história na qual sou um interveniente directo.
Do tesouro que está no Museu Nacional de Arqueologia, desde o dia em que o trouxe de Baleizão (com um seguro pago por mim), pouco sei. Nunca mais o vi e muito pouco se publicou, à excepção dos ponderais em bronze, aliás, peças fantásticas, nada mais foi dado a conhecer.
Não me arrependo de o ter enviado para o Museu Nacional de Arqueologia que é, por diversas ordens de razões, o local onde existem condições para estarem os nosso maiores tesouros nacionais. Mas, considero já ser tempo de o mostrarmos às gentes das terras onde ele foi encontrado, como então nos comprometemos.
As terras onde ele apareceu foram entretanto cobertas com oliveiras e o azeite é agora a sua maior riqueza. Eram terras onde os materiais de várias épocas cobriam o chão; as telhas decoradas do período islâmico, nalguns pontos de tão denso ser o seu volume,impediam se visse a cor da terra.
Não tenho notícia que os jovens que correram a denunciar como tráfico de obras de arte a compra de um tesouro pelo Museu Nacional de Arqueologia, com contrato de compra e venda firmado em papel que chegou por fax ao posto da GNR de Baleizão, tivessem usado o poder que os lugares que ocupam na administração pública lhes confere, em defesa do património arqueológico da região do Alentejo; não se lhes conhece nenhum empenho em zelaram para que os trabalhos agrícolas que reviraram o passado e o cobriram de árvores do “novo petróleo” fossem acompanhados de trabalhos arqueológicos E era até fácil; o proprietário do terreno onde apareceu o tesouro estava disponível para “preservar o espaço” como o declarou ao jornal o Publico, em 2009.
Não sei se 10 anos depois do achado sou já capaz de contar história. O processo judicial terminou ainda há pouco e, talvez, ainda não esteja preparada para falar de um caso que ilustra o desastre da arqueologia actual vinculada à "preservação pelo registo", sem ser contaminada pela indignação de ter sido atropelada por um abuso de autoridade e uma canalhice que a alguns, os tais pobres trabalhadores de que falava a Clara Ferreira Alves, causou danos pessoais irreparáveis.
Mas sei bem que é necessário que se conte tudo, para que tudo se saiba. Agora que, finalmente, já vi a cara, que já sei quem é, um desses tão empenhados jovens (que agora já não é tanto), quem sabe, tudo se torne mais fácil (É sempre mais difícil quando se não conhece  a cara do acusador).
 É importante que se conte toda a história, se lhe coloquem os nomes todos e o papel que cada um desempenhou nela e, sobretudo, que se mostre como o Tesouro de Baleizão é um dos grandes tesouros da arqueologia da região de Beja, do Alentejo  e de Portugal.