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29/09/2010

Os professores PEC e as aulas que não são

Houve um tempo em que se falava dos professores Turbo. Eram os que se deslocavam a muitas universidades, dispersas pelo país, debitar a mesma coisa e ganhar muito dinheiro.
Hoje os professores Turbo são aqueles que são obrigados a dar muitas cadeiras, com muitos alunos em cada turma (a fazer avaliação continua!???) e sem tempo para se deslocar.
Estes professores Turbo do P(resentes)E(nquanto)C (onseguem) distinguem-se dos outros porque ganham pouco e moram numa Universidade; assemelham-se aos outros porque dão muitas aulas sem tempo entre umas  e outras, isto é, dão aulas que não  o são.

19/09/2010

Acesso à Universidade ou a vida a andar para trás


Acabei de tomar consciência de que a qualidade de vida da minha vida, foi aprisionada pela obrigação do sistema público de prestação de serviços a todos.
As vagas disponíveis na Universidade de Coimbra para a licenciatura de Arqueologia e História foram todas preenchidas. Se se repetir o que se vem passando nos últimos anos, aos 25 alunos que entraram por via da candidatura, irão somar-se mais uns tantos que mudam de curso, mais outros muitos dos contingentes especiais, mais os aposentados que por se julgarem, ou serem de facto, ainda jovens vêm embebedar o tempo livre caminhando para os bancos (podres e desconfortáveis) da Universidade e mais outros que não se sabe de onde vêm, mas sempre aparecem.
Ora, estas legiões de alunos (logo veremos quanto são estudantes), a quem a Instituição agradece, pois que nestes tempos de vacas magras para o Ensino Superior cada um representa uma propina e a propina “é um bem para se guardar”, são a razão para eu ver a minha vida a andar para trás e, maldito contra-senso, a minha vida anda para trás, mas é o desgaste que anda para a frente.
Com tantos alunos que todos os anos fazem a matrícula em História e Arqueologia, que ás vezes nem cabem nas fantásticas salas que nos dão para dar aulas, e um número tão curto de professores que a Instituição disponibiliza para esta licenciatura (5 dos quais 4 são Auxiliares e 1 Associado, uns conferencistas, para substituírem professores e dois contratados, um a 20% e outro a 50%), que são os mesmos que asseguram o 2º Ciclo em Arqueologia e Território e o 3º Ciclo em Arqueologia, é caso para perguntar se isto é ensino superior e/ou que poção mágica tomam estes professores.
É verdade que uma licenciatura com um nome destes nem devia ser permitida, quanto mais ter professores ou ser aberta a alunos. Mas já que existe e que tem público, deveria a instituição cuidar melhor do serviço que presta; é que se não fossem os docentes a trabalhar muito para lá dos limites, num imensurável esforço, assegurando um número impossível de cadeiras, ela morria por falta de condições.
Por ser tão absolutamente obscena a “ginástica” a que o corpo docente é obrigado, deveria ser solicitada a presença da ASAI no local de trabalho para averiguar as condições higiénicas em que funciona este serviço público, e a de outras entidades que atestassem as condições de segurança e dignidade no trabalho. De professores e alunos.
Mas que interessa a minha opinião expressa ou o que penso. O que importa é que o serviço se preste, se presta ou não presta, isso é irrelevante, contando que se cumpram os parâmetros es preste o serviço em condições.
Falando apenas de Ensino, pois não é aqui lugar para falar dessa perversidade chamada investigação, num ano lectivo lecciono seis (seis, repito) cadeiras obrigatórias, cada uma de sua área e sempre excedendo o máximo de horas que a lei determina (mas sem qualquer pagamento de horas extraordinárias). Frequentemente, algumas das cadeiras que dou num ano, no ano seguinte já não sou eu que as dou. Com um mês de férias, que já nem o direito a gozar os dias úteis legais de férias nos são dados, no qual temos que fazer escavações, o tempo para preparar aulas é eterno. Não, não é eterno, é infinito— nunca se alcança..
Eventualmente, deveria sentir-me importante, pois  deveria reconhecer que a Instituição está atenta à minha excelsa competência e à minha inesgotável capacidade de saber de tudo.
Por exemplo, a Instituição dá-me a responsabilidade de assegurar cadeiras de todo o tipo e temática, do 1º, 2º e 3º Ciclos, alternando os temas ao longo do tempo, sinto que já não tenho condições de assegurar com dignidade o serviço que me distribuem.
E não será qualquer um que pode assegurar três cadeiras das cinco do plano curricular do 1º semestre do 1ª ano do 1º ciclo. Não esqueçamos que, se acabadinhos de chegar à Universidade, os alunos apanham o mesmo professor segunda feira pela manhã a falar de História de Roma, segunda feira à tarde a introduzi-los na Introdução à Arqueologia e terça feira pela manhã a percorrer, à pressa, que num semestre nem tempo há para falar de Péricles, a História da Grécia. Ora, tanta coisa só mesmo um professor competentissimo. Não vão eles querer mudar o local de pagamento de propinas.
Ora, desgraçadamente, nunca senti outra coisa que não fosse uma identificação com a minha professora Primária, que pela manhã mostrava as sua habilidades em Português, à tarde nos ensinava Aritmética e no dia seguinte nos iniciava em lavoures e trabalhos manuais. Só me faltava a bata branca!
Mas mesmo assim, devia deixar o meu mau feitio de lado, e, fazer o esforço por me  sentir honrada por ser, eventualmente, um exemplo de que a Universidade está atentíssima aos seus melhores recursos, e que os coloca à disposição para formar alunos de excelência. A prova é que  boa parte dos alunos, sem nunca se queixar, assistiu voluntariamente a todas as aulas. Bravos alunos!
Eventualmente, deveria sentir-me deslumbrada. Mas como sou lúcida e tenho muito bem apreendido que mesmo sendo excepcional, ninguém pode ser eternamente bom e bom a cada dia, se não tiver espaço e tempo para refrescar o conhecimento, não sei o sentir, se algum coisa há para sentir. a este respeito. Imagino que os meus colegas também tenham muitas dúvidas em saber qual o seu sentimento face à situação em que nos encontramos. Exaustos, sem perspectivas de mudança é, ao invés de qualquer endeusamento, um sentimento confuso em que humilhação e vergonha fazem parte dos ingredientes do preparado aquilo que em ocorre sentir.
Depois, como tenho certo que sou apenas humana e partilho a excelência e as fraquezas de cada um de todos os humanos é a sensação de sentir que alguém colocou um lugar de inversão de marcha no meu percurso, contrariando a direcção que eu acho dever seguir.
Como se alguém me obrigasse  a seguir um  percurso no qual eu não me sei reconhecer.

02/09/2010

"Arqueologia das cidades de Beja"

 Foto António Cunha

Na exaustão do final, a solidão da dúvida que tudo ousa.   Há sempre um campo que se não fecha, quando se não alcança a profundidade do que aos olhos se foi revelando em espanto.