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31/05/2023

O Cansaço e o reforço das convicções

 Em artigo publicado no jornal o  In Público, na Quinta feira, 25 de Maio de 2023, pag.9 , Eduardo Marçal Grilo, entre outros exemplos de cansaço, referia:

(...) "Estou também indignado com os processos lançados contra pessoas que, quando julgadas, se provou nada terem feito de mal".

(...) "Estou cansado e triste por ver pessoas “queimadas” na praça pública com notícias falsas ou com acusações infundadas.Estou farto de ver incompetentes a exercer cargos para os quais não têm qualquer qualificação.Estou cansado e farto de ver nas televisões o rigor substituído pelo espetáculo. Estou farto de ver muita gente mais interessada em estar do lado do problema do que do lado das soluções. E também estou cansado de ver que em certos casos são eles mesmos o problema. Como também estou cansado dos que gostam mais de destruir do que construir. Estou cansado de ver tanta inveja e tanta vontade de deitar abaixo os que fazem qualquer coisa que se veja".

O Professor Marçal Grilo termina o seu texto com uma convicção determinada " Nota final: estou triste, cansado e farto de muitas coisas, mas não sou um desistente.
Estarei sempre disponível para lutar contra os populismos e contra os inimigos da democracia, procurando que não nos toquem na liberdade e que, sem complexos ideológicos, se encontrem, com moderação, equilíbrio e bom senso, as soluções para os problemas que enfrentamos."

        Nunca me senti tão convocada para a subscrição de um texto e para a partilha de uma convicção.


o texto Completo do Professor Marçal Grilo

"Estou farto e cansado
Sim, estou farto de quase tudo o que ouço e vejo à minha volta.
Sim, estou farto de ver os políticos a criar conflitos inúteis, como estou farto de ver as televisões a massacrar os telespectadores com programas de futebol intermináveis e em que para entreter se criam conflitos sobre penalties, expulsões e foras-de-jogo.
Estou cansado de ler as notícias da corrupção que corrói a democracia e alimenta os populismos. Estou cansado de ver os moderados sem voz e sem presença nos media. Estou cansado e triste por ver pessoas “queimadas” na praça pública com notícias falsas ou com acusações infundadas. Estou farto de ver títulos de jornais que não correspondem à notícia a que se referem.
Estou farto de conferências, colóquios e seminários em que os que falam e os que ouvem são sempre os mesmos. Estou farto dos debates em que nós todos já sabemos o que cada um vai dizer.
"Estou cansado e triste quando vejo os militantes dos partidos abdicarem de dizer o que pensam.
Estou farto de ver gente em lugares de responsabilidade comportarem-se como membros de uma associação de estudantes do ensino secundário.
Estou cansado e triste por ver deitados para o lixo trabalhos que foram feitos por organizações credíveis que só querem contribuir para melhores soluções para os problemas do país.
Estou farto da arrogância de alguns que nos querem impor as agendas das minorias. Como também estou cansado dos excessos em torno da cultura de género.
Estou cansado das notícias que justificam que os processos judiciais se tornem intermináveis. Estou farto dos que lucram com todo este emaranhado jurídico dos processos lançados pelo Ministério Público.
Estou também indignado com os processos lançados contra pessoas que, quando julgadas, se provou nada terem feito de mal.
Estou farto de ver incompetentes a exercer cargos para os quais não têm qualquer quali􀃆cação.
Estou cansado e farto de ver nas televisões o rigor substituído pelo espetáculo. Estou farto de ver muita gente mais interessada em estar do lado do problema do que do lado das soluções. E também estou cansado de ver que em certos casos são eles mesmos o problema. Como também estou cansado dos que gostam mais de destruir do que construir. Estou cansado de ver tanta inveja e tanta vontade de deitar abaixo os que fazem qualquer coisa que se veja.
Confesso igualmente que estou cansado das notícias sensacionais que duram menos de 24 horas, porque foram forjadas com objetivos inconfessáveis.
Estou cansado de não ver enaltecido o que de muito bom se faz em Portugal, seja nas empresas, nas universidades, nas escolas ou nos hospitais. Como estou farto de ver aqueles que, como portugueses, gostam de se autoflagelar. Estou cansado de ver televisão e até de ler jornais.
Sim, estou cansado de viver num país que adoro, mas que me traz grandes frustrações quase todos os dias. Tanta frustração deve talvez ser da idade e da falta de paciência que tenho para aturar tantos disparates.
Nota final: estou triste, cansado e farto de muitas coisas, mas não sou um desistente.
Estarei sempre disponível para lutar contra os populismos e contra os inimigos da democracia, procurando que não nos toquem na liberdade e que, sem complexos ideológicos, se encontrem, com moderação, equilíbrio e bom senso, as soluções para os problemas que enfrentamos."
(Eduardo Marçal Grilo. Ex-ministro da Educação. In Público, Quinta feira, 25 de Maio de 2023, pag. 9)

27/05/2023

Pax Iulia e o seu Forum Esclarecimento e Parecer (Por Jorge Alarcão)



 

A Câmara Municipal de Beja e o Senhor Arquitecto Vítor Mestre têm publicamente (e talvez em documentos oficiais que desconhecemos) apresentado como tendo a nossa aprovação o projecto de edifício a construir na rua da Moeda como equipamento para acolher os visitantes das ruínas do fórum romano de Beja escavadas, com inexcedível competência, pela Doutora Maria da Conceição Lopes. Isso é apenas meia-verdade. Cumpre revelar a outra meia-verdade que tem sido intencionalmente ocultada pela Câmara Municipal e pelo Senhor Arquitecto Vítor Mestre. 

Na primeira apresentação pública do projecto, realizada em Fevereiro de 2020, manifestámos inequivocamente a nossa posição. A solução que considerámos ideal (e mantemos ainda hoje a mesma opinião) devia ser outra: o aproveitamento do edifício camarário que tem frente para a Praça da República (com os números 41 e 43) e traseiras para as ruínas do fórum. Nesse edifício devia ser instalado um Museu Arqueológico para recolher e apresentar os materiais (abundantes e importantes) recolhidos nas escavações, assim como os que se encontram actualmente no Museu Regional de Beja (designadamente os extraordinários capiteis do fórum). Do rés-do-chão desse edifício ter-se-ia acesso fácil às ruínas. Dos andares superiores ter-se-ia excelente vista aérea das mesmas ruínas, eventualmente tornando até desnecessário, para muitos visitantes, o calcorreamento ou pisoteamento das mesmas ruínas (com vantagem para a sua conservação). Além disso, no equipamento projectado pelo Senhor Arquitecto Vítor Mestre não haveria (e não há) espaço suficiente para uns sanitários que pudessem (ou possam) responder convenientemente a um grupo de 25 ou 30 visitantes que em simultâneo cheguem depois de um percurso de duas horas de autocarro. O problema não existiria no edifício da Praça da República.

Dado que, naquela sessão de apresentação do projecto, se tornou manifesto que a Câmara Municipal não aceitaria a nossa proposta e que estava firmemente decidida a executar o projecto que havia encomendado, manifestámos a nossa disposição de ajudar a revê-lo tendo como objectivo diminuir os aspectos negativos. 

Tivemos então algumas reuniões de trabalho com o Senhor Arquitecto Vítor Mestre, que, receptivo às nossas sugestões, procedeu a algumas alterações, das quais a mais importante foi a de elevar o piso do edifício a uma cota que permitisse a visita das ruínas que ficarão sob o mesmo edifício. 

Esta é a meia-verdade que tem sido escamoteada. Para nós, a solução ideal teria sido outra.

Devemos, todavia, honestamente, confirmar que colaborámos na revisão do projecto, embora desconheçamos a sua versão final e definitiva. Desconhecemos também o projecto que terá sido elaborado de rede de escoamento de águas pluviais e de instalação eléctrica.

Tendo sido de boa-vontade e informal a nossa colaboração, sem qualquer indigitação ou confirmação pela Direcção Geral do Património Cultural, recusamos qualquer alegação de que fomos o arqueólogo responsável pelo acompanhamento do projecto. Nunca, aliás, nos teríamos prestado a desempenhar esse papel, por entendermos que ele caberia, de pleno direito, à Doutora Maria da Conceição Lopes.   

 

Também não temos conhecimento de qualquer proposta, se é que existe, relativa aos trabalhos de conservação e apresentação das ruínas. Pela Drª Adília Alarcão foram apresentadas ao Senhor Presidente da Câmara Municipal as bases e princípios para um programa e respectivo caderno de encargos. Se tal programa e caderno chegaram a ser elaborados (e, neste caso, por quem) não é do nosso conhecimento.

 

Temos informação de que o arqueólogo Filipe João Carvalho dos Santos apresentou um PATA para a realização dos trabalhos de acompanhamento requeridos no âmbito do Projecto de Valorização do Edifício do Forum de Beja. Entendemos que tal acompanhamento deve, por razões científicas e éticas, ser assegurado pela Doutora Maria da Conceição Lopes. Quem competentemente realizou as escavações e, como é óbvio, conhece a complexidade das ruínas e as sabe interpfetar é a pessoa indicada para assegurar esse acompanhamento. Outra escolha é eticamente condenável (se é que não é também juridicamente reprovável).

 

 

Coimbra, 10 de Maio de 2023

 

  

Jorge de Alarcão

                                     (Professor Catedrático Aposentado

         da Faculdade de letras de Coimbra)


O documento é publicado por expressa vontade do autor, Jorge de Alarcão, depois de dado prévio conhecimento  a todos os que nele são  referidos, direta ou indiretamente.

19/05/2023

A ARTE DA TERRA


Em Assembleia Geral Extraordinária do ICOM, em Praga, no dia 24 de agosto 2022, foi aprovada uma nova definição de Museu:

"Museu é uma instituição  permanente, sem fins lucrativos  e ao serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o património material e imaterial. Abertos ao público, acessíveis e inclusivos, os museus fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Com a participação das comunidades, os museus funcionam e comunicam de forma ética e profissional, proporcionando experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento".

A terra guarda em seus perfis peças de desenho excepcional e excelência para a pesquisa.
Este corte estratigráfico, observado na escavação no Logradouro do Conservatório Regional do Baixo Alentejo/ Rua da Moeda, em Beja, é uma dessas peças.
A cobiça pelo acervo dos museus às vezes dá belas comédias: como Um Crime Nada Perfeito, The Maiden Heist (Original), filme dirigido por Peter Hewitt com Wynn Everett, Bates Wilder. Todavia, às vezes, as as obras perdem-se para sempre. E nem mesmo é o mundo dos NFT que as pode salvar. 

Perfil sul Sc3
@arqueologia das cidades de Beja

15/05/2023

Escavadora. Claro que sou!

 Hoje acedi a uma texto onde um rapaz, Filipe J. C. Santos, se me referia como a escavadora.

Ao longo de vários anos trabalhei num projecto que ele, que nunca visitou, critica com voz, certamente sábia, e desdenhadora das escavadoras. 

Como adjectivo, o dicionário indica que sábio é o que sabe fazer habilidades. 

Eu, como escavadora, que no dicionário diz significar ser uma máquina de escavar, ofereço-me o qualificativo com orgulho.  Como arqueóloga, que no dicionário diz ser a pessoa que se dedica à Arqueologia, não tenho dúvidas que foi  o trabalho em torno dessa magnífica ciência que me fez "escavadora".  Foi apenas essa habilidades, a de querer saber de cor o que diz a terra.

Nunca me furtei ao trabalho para saber mais. Porque o saber dá trabalho. De viva Voz, é preciso escavar!

Contra a Misogenia, nada como uma escavadora!