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01/10/2023

“Uso a palavra para compor meus silêncios.”

 En una época de engaño universal decir la verdad es un acto revolucionario” Ian Angus 


uma vez que à data não nos encontrávamos em trabalho de gabinete como não se perspectivava o início e/ou reinício de qualquer intervenção arqueológica de que somos responsáveis, resolvemos anuir ao desafio que nos foi colocado" Filipe J. Santos, in 
Plano de Trabalhos Arqueológicos Acompanhamento Arqueológico Projecto de Valorização do Espaço do Fórum (o acento é do autor) Romano de Beja [Beja], Abril de 2023, p.7

Para refletir sobre a frase supra inscrita roubei o verso “Uso a palavra para compor meus silêncios.” ao poeta Manuel de Barros, do poema O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS, porque o jeito que tenho para as palavra é redondo e faria com que elas, rebolando, se atrapalhassem a se esquecessem do senso de responsabilidade cívica e da militância que lhes dá forma e vida.

Turvam-se os olhos a enxergar os campos da Novarqueologia; porque queria ler neste programa de trabalhos oferta de ampliação de conhecimento e empenho, mas apenas alcanço banquete de miséria humana.
Enquanto não abro os livros das coisas firmadas, continuo a recorrer a Manuel de Barros:                                                                                                                 
                                                                                                                            Importâncias: 


"Um fotógrafo-artista me disse outra vez: veja que pingo de sol no couro de um lagarto é para nós mais importante do que o sol inteiro no corpo do mar. Falou mais: que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem com barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós. Assim um passarinho nas mãos de uma criança é mais importante para ela do que a Cordilheira dos Andes. Que um osso é mais importante para o cachorro do que uma pedra de diamante. E um dente de macaco da era terciária é mais importante para os arqueólogos do que a Torre Eifel. (Veja que só um dente de macaco!) Que uma boneca de trapos que abre e fecha os olhinhos azuis nas mãos de uma criança é mais importante para ela do que o Empire State Building."

 

E lendo o parecer que laudatoriamente a tutela redige, particularmente o ponto 21, toda a poesia se esmorece, porque nem dá espaço para apanhar desperdícios: O acompanhamento  a realizar pelo arqueólogo que subscreve O PATA Permitirá sim agilizar o processo de concretização de um projecto de valorização de um importante sítio arqueológico da cidade de Beja,(...) e vem criar uma infraestrutura museográfica-museológica importantíssima para a cidade e que, na nossa opinião, pode permitir a maximização do projecto arqueológico e a sua valorização.”  

 

Ficaríamos descansados se esta biscate fosse trazer mais valias de conhecimento técnico e científico; mas como é no intervalo de seus afazeres e para agilizar as dúvidas são legítimas.

 

A felicidade dos sábios surge de seus próprios atos livres.” Pensamentos de Marco Aurélio.