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02/11/2014

César de Pax Iulia




Em 2007, o busto em mármore de um homem foi retirado do rio Ródano (FIG.1). O arqueólogo Luc Long apressou-se a sugerir que esta bela peça seria um novo tipo de retrato de Júlio César e que dataria de cerca de 46 a.C.. Teria sido executado em tempo de vida do general e, por isso, a mais antiga representação conhecida de Júlio César.
O seu achado constituía, pois, um acontecimento arqueológico de uma extrema importância. As críticas a esta atribuição não tardaram e foram, inclusive, pronunciadas num debate organizado no Louvre com especialistas pró e contra esta identificação. 
A maior crítica centrava-se na falta de elementos de semelhança com os tipos de bustos de César conhecidos. Fleminng Jonansen, especialista dinamarquês, afirmou que como não havia na época de César nenhum tipo de retrato oficial, como acontecia ao tempo de Augusto, se aceitava como normal encontrar grandes diferenças entre as várias representações de César e, também,  que os retratos realizados em França fossem diferentes dos retratos romanos ou italianos. (http://www.louvre.fr/sites/default/files/medias/medias_fichiers/fichiers/pdf/louvre-programme-detaille-table-ronde.pdf)

Por seu lado, Christian Goudineau, professor de História Antiga no Collège de France, argumentOu a ausência de semelhanças deste retrato com os conhecidos, com o facto deste  ser mais antigo, ter sido executado antes dos outros, que são póstumos ou cópias do período augustano.
Sobrepondo as opiniões favoráveis às contrárias a credenciação do César de Arles ( ou do Rhône) tomou o seu caminho.
Em 2009  quando o Musée d'Arles Antique, organizou uma exposição intitulada  César, le Rhône pour mémoire, expõe-se pela primeiravez ao público "Um busto de César de grande tamanho em mármore, único na Europa" como em 2008 a  ministra da cultura, Christine Albanel, o havia designado.
O Louvre recebeu a exposição em 2012, entre os meses de Março e Junho, e juntou às peças do Ródano o busto de César de Tusculum , que está no museu de Turim (FIG: 2), e que à data era considerado o único exemplar que reconhecidamente representa César, para que houvesse a possibilidade de confrontar os dois retratos.
O único retrato de César em vida e o exemplar que servia de comparação foram vistos por 400 mil pessoas.
 Em 1900 foi encontrado em Beja, na muralha, um busto varonil de um homem de meia idade, com uma cicatriz no lado esquerdo (FIG.3). Está no Museu Regional de Beja, encaixado em uma base de gesso, exposto num nicho meio escondido, numa ala do claustro.
Vasco de Souza afirma que "na sua concepção, esta cabeça faz recordar os retratos de Júlio César".
Comparando a cabeça de Beja com outros retratos conhecidos de César, nomeadamente o mais emblemático, o de Tusculum, que sem contestação é identificado com César, as semelhanças são evidentes: o formato dos lábios, em que se destacam as covas nos cantos; as rugas profundas partindo das abas do nariz; as rugas da testa; a posição de olhos e as sobrancelhas arqueadas; o queixo saliente e o penteado são, apresentam similitudes claras.
Suetónio descreve Júlio César como tendo rosto largo, formato em que se enquadra melhor o retrato de Beja que a face mais triangular do retrato do museu de Turim.
São, também, evidentes as semelhanças do retrato de Beja com o de Arles. A distinta qualidade das ilustrações pode não mostrar com rigor as proximidades, mas elas são bem claras.

O retrato de homem de meia idade de Beja reúne, portanto, todas as condições para ser uma representação de César. Desta opinião é, também Margarida Maria Almeida de Campos Rodrigues (O retrato oficial Romano no tempo da Dinastia Júlio-Cláudia(https://www.academia.edu/2073514/O_RETRATO_OFICIAL_ROMANO_NO_TEMPO_DA_DINASTIA_JÚLIO-CLÁUDIA)
Se se trata de uma cópia da época Augustana é, do ponto de vista da representação e do seu valor, absolutamente indiferente, pois que datam desta época boa parte dos raros retratos conhecidos de César.
Desde há algum tempo que vimos tentando dar visibilidade a este retrato de Pax Iulia. Não é por falta de qualidade da peça, nem por falta de argumentos que justificam a sua importância que não logramos que se retire do nicho onde está "escondida" (curiosamente no mesmo nicho onde está a designada "Vénus de Beringel", outra escultura de grande qualidade) e transferida para local onde seja feita justiça à sua importância.
As várias propostas de valorização do César de Pax Iulia, por alguma razão, esbarram em negações que se não compreendem nem se justificam.
Dá vontade de pensar que se vendêssemos a peça aos franceses eles tratariam imediatamente de mobilizar milhares de visitantes para verem mais um retrato de César.
Ministros e Secretários de Estado, Directores de Museus e outros estariam, muito provavelmente  presentes na  apresentação pública. Para Portugal, talvez fosse interessante negociar a venda e conseguir verbas para as obras do Museu Regional Rainha D. Leonor.
Quem sabe, não receberia o Museu obras necessárias e urgentes e o César de Pax Iulia lugar digno de exposição.

Mas…, Beja merece ter esta peça e valorizada.



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