Em 2007, o busto em mármore de um homem foi retirado do rio Ródano (FIG.1). O arqueólogo Luc Long apressou-se a sugerir que esta bela peça seria um novo tipo de retrato de Júlio César e que dataria de cerca de 46 a.C.. Teria sido executado em tempo de vida do general e, por isso, a mais antiga representação conhecida de Júlio César.
O seu
achado constituía, pois, um acontecimento arqueológico de uma extrema
importância. As críticas a esta atribuição não tardaram e foram, inclusive,
pronunciadas num debate organizado no Louvre com especialistas pró e contra
esta identificação.
A maior crítica centrava-se na falta de elementos de semelhança com os tipos de bustos de César conhecidos. Fleminng Jonansen, especialista dinamarquês, afirmou que como não havia na época de César nenhum tipo de retrato oficial, como acontecia ao tempo de Augusto, se aceitava como normal encontrar grandes diferenças entre as várias representações de César e, também, que os retratos realizados em França fossem diferentes dos retratos romanos ou italianos. (http://www.louvre.fr/sites/default/files/medias/medias_fichiers/fichiers/pdf/louvre-programme-detaille-table-ronde.pdf)
Por seu lado, Christian Goudineau, professor de História Antiga no
Collège de France, argumentOu a ausência de semelhanças deste retrato com os
conhecidos, com o facto deste ser mais antigo, ter sido executado antes
dos outros, que são póstumos ou cópias do período augustano.
Sobrepondo
as opiniões favoráveis às contrárias a credenciação do César de Arles ( ou do
Rhône) tomou o seu caminho.
Em
2009 quando o Musée d'Arles Antique, organizou uma
exposição intitulada César, le Rhône pour mémoire, expõe-se
pela primeiravez ao público "Um busto de César de grande tamanho em
mármore, único na Europa" como em 2008 a ministra da cultura,
Christine Albanel, o havia designado.
O
Louvre recebeu a exposição em 2012, entre os meses de Março e Junho, e juntou
às peças do Ródano o busto de César de Tusculum , que está no museu de Turim
(FIG: 2), e que à data era considerado o único exemplar que reconhecidamente representa
César, para que houvesse a possibilidade de confrontar os dois retratos.
O
único retrato de César em vida e o exemplar que servia de comparação foram
vistos por 400 mil pessoas.
Vasco
de Souza afirma que "na sua concepção, esta cabeça faz recordar os
retratos de Júlio César".
Comparando
a cabeça de Beja com outros retratos conhecidos de César, nomeadamente o mais
emblemático, o de Tusculum, que sem contestação é identificado com César, as semelhanças são evidentes: o formato dos lábios, em que se destacam as covas
nos cantos; as rugas profundas partindo das abas do nariz; as rugas da testa; a
posição de olhos e as sobrancelhas arqueadas; o queixo saliente e o penteado
são, apresentam similitudes claras.
Suetónio
descreve Júlio César como tendo rosto largo, formato em que se enquadra melhor
o retrato de Beja que a face mais triangular do retrato do museu de Turim.
São,
também, evidentes as semelhanças do retrato de Beja com o de Arles. A distinta
qualidade das ilustrações pode não mostrar com rigor as proximidades, mas elas
são bem claras.
O retrato de homem de meia idade de Beja reúne, portanto, todas as condições para ser uma representação de César. Desta opinião é, também Margarida Maria Almeida de Campos Rodrigues (O retrato oficial Romano no tempo da Dinastia Júlio-Cláudia(https://www.academia.edu/2073514/O_RETRATO_OFICIAL_ROMANO_NO_TEMPO_DA_DINASTIA_JÚLIO-CLÁUDIA)
Se se
trata de uma cópia da época Augustana é, do ponto de vista da representação e
do seu valor, absolutamente indiferente, pois que datam desta época boa parte
dos raros retratos conhecidos de César.
Desde
há algum tempo que vimos tentando dar visibilidade a este retrato de Pax
Iulia. Não é por falta de qualidade da peça, nem por falta de argumentos
que justificam a sua importância que não logramos que se retire do nicho onde
está "escondida" (curiosamente no mesmo nicho onde está a designada
"Vénus de Beringel", outra escultura de grande qualidade) e
transferida para local onde seja feita justiça à sua importância.
As
várias propostas de valorização do César de Pax Iulia, por alguma razão,
esbarram em negações que se não compreendem nem se justificam.
Dá
vontade de pensar que se vendêssemos a peça aos franceses eles tratariam
imediatamente de mobilizar milhares de visitantes para verem mais um retrato de
César.
Ministros
e Secretários de Estado, Directores de Museus e outros estariam, muito
provavelmente presentes na apresentação pública. Para Portugal,
talvez fosse interessante negociar a venda e conseguir verbas para as obras do
Museu Regional Rainha D. Leonor.
Quem
sabe, não receberia o Museu obras necessárias e urgentes e o César de Pax
Iulia lugar digno de exposição.
Mas…, Beja merece
ter esta peça e valorizada.
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