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09/11/2011

Arqueologia no Outeiro



Não me lembro de terem construído os estendais. Certamente porque foram construídos antes de eu nascer. Mas, cresci a subir as escadas que serpenteavam entre eles e a brincar no milho a secar ao sol espalhado em mantas de fitas coloridas. E lembro-me do meu avô me contar como havia construído o seu estendal e a respectiva palheira.
São pequenos patamares ajeitados com cortes no xisto, que com o tempo viram  uma pequena película de terra acumular-se na sua parca superfície.
Casualmente, precisei de indicar qual era exactamente o superfície do estendal do meu avô, minúscula parcela de terra que o meu pai me tinha dado.
Descobri que no estendal de baixo haviam começado os preparativos para construir uma casa. Eram evidentes os sinais de ganhar ao xisto o espaço para assentar os alicerces. Descobri, também, que para desbravar o terreno e cortar a rocha de base foi necessário haver a presença de um arqueólogo.
Pasmei!  Exigir, neste caso a um particular, o pagameto da presença de um arqueólogo para olhar para máquinas e homens a desbravar a  rocha virgem para afeiçoar o terreno onde se ia construir uma casa, não sei que classificação pode ter. Certamente, a mesma que se dará à obrigação da presença de um arqueólogo a olhar para homens e máquinas que  abrem  valas  para introduzir tubos de electicidade, nas mesmas valas que três meses antes se haviam aberto,  na presença de um aqruólogo (quem sabe se não era o mesmo!), para colocar tubos de gáz!
Um dia destes vou ter que reconstruir o muro do estendal ao Outeiro (Oiteiro), o muro construído pelo meu avô e que com esta obra acabou por cair em parte; certamente, para ser coerente,  o IGESPAR vai solicitar a presença de um arqueólogo. Vou pagar-me  a mim mesma para olhar para os pedreiros a fazer o seu trabalho. E nunca direi a ninguém que estou ali porque um organismo do estado obriga! E, sobretudo, nunca direi a ninguém que eu sou arquóloga e que este tipo de trabalho é uma forma de ganhar a vida! E farei questão de solicitar ao IGESPAR, porque se me afigura não haver justificação, que prescinda da ida dos seus técnicos  para irem "fechar o trabalho". Sempre o estado poupa dinheiro em combustível e desgaste de viaturas! 
 
Quem disse que muito do anda por aí a fazer-se em nome da Arqueologia é Arqueologia?
E será que a casa que o IGESPAR vai autorizar que se construa se vai parecer com aquela outra que  o mesmo IGESPAR autorizou noutra parte do povo, depois de presente o arqueólogo para ver as fundações penetrarem quase até ao ribeiro, e nada ter registado?
 A Arqueologia é..... Eu bem sei que não é nada disto!

07/11/2011

Enquanto não privatizam o Céu

Já só falta privatizarem o céu! Enquanto não acontece! vejamos, o céu; algures na estrada para Quintos!

28/09/2011

O Lugar de cada um


Terminou o VI Encontro de Museus de Países e Comunidades de Língua Portuguesa 
http://www.icom-portugal.org/cplp/.
O Iêdo foi o último a falar.   Memorial do Homem Kariri, uma experiência de inclusão social através do protagonismo juvenil, foi o tema da comunicação que apresentou.
Ele, o director do museu, nomeado por ser quem mais se interessava por aquele espaço da casa, por ser quem mais tempo lhe dedicava, disse palavras simples, desenhou gestos inquietos, atirou sonhos desabridos ao ar sem nunca perder a serenidade de quem está falar de um lugar que é o seu, mas não se cansando de dizer que outros já estão a ser preparados para ocupar o lugar; é que ali todos partilham o lugar de cada um e o importante é que o conhecimento passe "de criança para criança, porque assim se aprende melhor"

25/09/2011

Disseram-me que uma colega ia para faculdade com um extintor de bombeiro


Recebi, no dia 24, Sábado, cerca das 10 horas da manhã, a seguinte mensagem: “Bom dia,
 Relativamente às cadeiras sujeitas à aprovação, especificamente "Inglês I" no 1º semestre, ficaria extremamente agradecida se aprovasse a minha inscriçao, pois as aulas começam no próximo dia 27 e caso não esteja inscrita não serei capaz de fazer avaliação, visto que as turmas têm limite de alunos.
Compreendo que a tarefa que lhe foi atribuída não faça sentido e concordo plenamente. No entanto, eu, e outros colegas na mesma situação, não temos nenhuma solução para resolver o problema.
Obrigada pela atenção!”

Esclareça-se o porquê desta mensagem. Sou Directora de Curso do 1º Ciclo da Licenciatura em História e Arqueologia. Já depois do dia 15 de Setembro, casualmente, uma funcionária administrativa da FLUC informou-me que eu teria que fazer a aprovação das inscrições dos alunos nas cadeiras, quando se observassem as seguintes  condições:
a)              — As cadeiras tivessem inscrição de alunos limitada;  em qualquer circunstância, mesmo que não fosse atingido o número de inscritos possível, eu teria que validar a inscrição, sem ter que dar qualquer satisfação ao docente da cadeira. Do mesmo modo que deveria proceder à aprovação de inscritos, em caso de ter havido um número maior de inscritos do que aqueles que estava definido para a frequência da cadeira. Nessa situação  eu deveria decidir, de acordo com os critérios que me apetecesse ou critério algum, a aprovação da inscrição de um número de alunos que coincidisse com o número definido para a frequência e, claro, com os mesmos  (sem) critérios excluir os outros;
b)              —  Inscrição de alunos da licenciatura de que sou directora em cadeiras de outras licenciaturas.
Note-se que, também aqui, não faço a mínima ideia qual a razão porque devo aprovar ou reprovar a escolha do aluno e, também, não existem critérios para aprovar ou reprovar.
c)              — quando haja cadeiras que sejam partilhadas por vários professores: os alunos podem escolher, em função dos seus interesses, um programa (no caso dos seminários de licenciatura, um seminário concordante com a investigação que lhe interessa) mas, por razões de partilha dos alunos, o director de curso, mais uma vez sem qualquer critério, deve distribuí-los de modo igualitário pelos professores.


Confesso a minha ignorância, mas não consigo entender a razão de um director de curso ter que fazer um trabalho administrativo desta natureza que, tanto quanto me parece, por não requerer nenhum critério, automaticamente poderia estar previsto.
Não se me afigura compreensível a razão para proceder à validação de uma inscrição que o sistema permitiu que o aluno fizesse. É que, creio eu, quando um aluno indica o curso e o grau em que se inscreve, ficam automaticamente disponíveis as inscrições nas cadeiras que o curso oferece, bem como as opções, e indisponíveis aquelas que o aluno não pode usar para o seu plano de curso.
Assim sendo, é redundante validar ou não validar as inscrições em cadeiras; se assim não é, é ridículo, porque um processo simples de criação de uma função automática poderia realizar esta tarefa.
Além do mais parece-me estranho que um director de curso, que teoricamente pode nem nunca ter visto o aluno, possa decidir se ele deve fazer um trabalho de investigação numa área e não noutra qualquer, com um professor e não com outro. É que, entre outras coisas, pode estar a obrigar um aluno a fazer investigação que não lhe interessa, que não quer, violando todo o espírito de Bolonha e toda a lógica do ensino superior. No limite podem ser dois alunos descontentes.
Se há um limite de inscrições e se não há nenhum critério para recusar ou aceitar, é inconcebível porque é que o sistema não pode bloquear as inscrições logo que se atinja o limite.
Sempre que havia cadeiras com limite de inscrições alunos e professores conseguiam entender-se no sentido de articular os interesses científicos e de conhecimento com os lugares disponíveis.
Teoricamente, ao ser o director de curso a fazer a escolha, poderá estar a deixar de fora os que queriam fazer a cadeira e a deixar inscritos os que o fizeram apenas por conveniência de horário.
Acho um verdadeiro absurdo aquilo que pedem aos directores de curso.
Ou talvez não seja um absurdo! Nunca ninguém explicou nada disto: como funcionava, para que servia.  Eu, apenas fui avulsamente informada de que posso aprovar em bloco, quando se trate de uma cadeira obrigatória do curso, mas que quando são cadeiras não obrigatórias estas devem ser aprovadas uma a uma.
 É justo que se pergunte se o que estão a pedir para validar não é deslocar a responsabilidade da inscrição regular das cadeiras dos serviços académicos para os professores. Ao dar a anuência à inscrição de cadeiras avulso que os alunos podem frequentar mas que podem ter algum tipo de restrição ou condicionante administrativa que se pode reflectir no final, na obtenção do diploma, o director de curso está, de olhos fechados e sem critérios definidos, a assumir essa responsabilidade. É que, no caso das cadeiras avulso, a aprovação deverá ser feita mediante uma análise do plano curricular do curso e do aluno, pois só assim se explica que apareça o resumo curricular do aluno, ora como o director de curso não tem que analisar esse plano, nem tem competência para tal, está administrativamente a comprometer-se com coisas que não sabe se estão bem.  
Veja-se,  um dos aluno a quem devo aprovar uma cadeira do 1º Semestre está em Erasmus. Acho estranho que ele tenha um plano curricular no estrangeiro e outro aqui que, de todo, não vai frequentar. Porquê então aprovar a inscrição?
Devo aprovar a inscrição de uma aluna numa cadeira sem que eu saiba se a cadeira tem limite de inscrições.  Posso estar a aprovar o que já não tem lugares. E depois? Quem assume a responsabilidade de uma inscrição para além do número de inscrições possíveis?

Há qualquer coisa de estranho nisto tudo. Não acredito que alguém se tenha divertido a transferir dos funcionários administrativos para os directores de curso um trabalho administrativo sem que este tenha em vista a responsabilização do director de curso, em qualquer coisa que nunca foi explicada.
Na realidade, parece-me maldade que se tenha transferido para o director de curso aquilo que os alunos resolviam nas filas à entrada das faculdades durante a noite e, depois nos serviços académicos.
Mais estranho se torna tudo isto, quando não houve prévio aviso de que os directores de curso iam fazer este trabalho e a sua comunicação seja feita como um dado adquirido por funcionários mais ou menos divertidos; os mesmos que dizem que os professores universitários não têm nada que pedir os dias de férias a que legalmente têm direito, porque só lhes é dado o mês de Agosto.
O que a aluna me pede, com a legitimidade que lhe assiste, pois que essa possibilidade lhe é proporcionada, é todavia mais um dos absurdos em que um director de curso universitário se vê encurralado. Ora, o director de curso, de acordo com a legislação e as necessidades, deveria preocupar-se com os aspectos científicos e pedagógicos do curso e jamais com os administrativos. Deixando de lado os direitos que um director de curso também tem, pode estar a ser pedido que estes façam um trabalho que os impede de trabalhar na preparação de uma aula e, depois, com razão, ter que explicar-se perante a queixa dos alunos de que a aula não prestou, de que o professor não prepara as aulas. E por aí vai...... No final, ainda, a classificação será lastimável.
A aluna, educadamente, pede para que eu faça um trabalho relativo às minhas obrigações profissionais no fim de semana. Isso implica que eu abdique de parte do fim de semana e que, além disso,  tenha internet e equipamento informático próprios ou que me desloque ao local de trabalho para poder executar a tarefa.
Em teoria, o aluno pode inscrever-se sexta feira às 5, 30 (ou durante o fim de semana) e exigir ao director de curso que lhe tenha aprovada a cadeira segunda feira às 9 da manhã! A aluna tem direito, pois é-lhe dada essa possibilidade. Esqueceram-se os génios das plataformas de funcionalização de professores que estes também têm direitos.
Repito, sem que se perceba porquê, nem para quê, tenho neste momento 204 alunos para validar, repartidos por 54 cadeiras.
Cada validação são 4, 33’’; esperam-me mais de 14 horas seguidas de validação.
E isto é apenas um dos menores trabalhos burocrático.
E eu só queria ser professor. E este ano vou outra vez dar muitas cadeiras e algumas novas. Entre as reuniões, as horas a reclamar os professores e outros trabalhos burocráticos, resta-me pouco tempo para fazer o trabalho que é minha obrigação: transmitir conhecimento.
 E, nestes tempos de crise, pode ser muito importante devolver à universidade  o seu papel de transmissora de conhecimento.

Mas como eu também só me sinto a apagar fogos!!

05/05/2011

Mediterraneo degusta-se em Mértola


 
Em Mértola estão à prova os sabores do Mediterrâneo. Vai falar-se de comida, certamente e de quem gosta de comer. De sabores e de gentes e de objectos onde se cozinha, consome e gurada a comida. E de outros objectos que fazem falta a quem se ocupa de iguarias.
E vai provar-se comida.
Sabores do MediterrâneoNão posso lá estar. E tenho muita pena. Ir a Mértola é sempre um sabor diferente que se prova. Sempre, acreditem. 
 
Trata-se do um Colóquio sobre alimentação em época islâmica. Uma organização do Campo Arqueológico de Mértola, em colaboração com o Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto e a Câmara Municipal de Mértola,  nos próximos dias 5, 6 e 7 de Maio de 2011, no âmbito do 6º Festival Islâmico de Mértola.  http://www.camertola.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=267&Itemid=1

04/05/2011

Triokas e brincadeiras


Foi no rádio que ouvi o Sócrates dizer que não nos preocupemos, que está tudo bem. Como não lhe vi  a cara não sei se disse isto sem se rir.
De repente, achei que o rádio tinha ensandecido; tinha acordado ouvindo conselhos para fazer contas e, afinal, ao fim do dia não valia a pena tanta preocupação.  Como durante todo o dio a Rádio fez tanto  folclore em torno do Barcelona -Real de Madrid, ainda pensei que era do desempenho do Cristiano Ronaldo que o nosso primeiro ministro estava  a falar — o pobre nada tão apagado que estaria hoje a fazer um jogo à sua boa maneira.  Mas não; o fluir do discurso deixou claro que o truque, do bem estar apresentado um dia antes da desgraça que será o dia seguinte, faz parte do descaramento e baixo nível da campanha eleitoral.
Fiquei chateada.
Corri para casa para ver o Messi, jogadas e dribles a sério e limpos, com os quais vale  a pena vibrar. Desliguiei o Rádio e apeteceu-me soltar um palavrão.

02/05/2011

Criminosos e sua justiça


Sem pôr em causa o carácter criminoso de Bin Laden, apraz-me perguntar: um crime paga-se com um assassinato?  Os americanos, os que acreditam em Deus, como diz o seu presidente, são vítimas inocentes. E porque não são inocentes os outros? Também não é em nome de Deus que agiam? Afinal o Deus é apenas americano?
E os crimes cometidos em outros países sem conhecimento destes não são crimes internacionais? ou são crimes apenas quando são outros os que os cometem?
É por isso que atirar um cadáver ao mar não será um crime porque foram os americanos?
Eu achava que os criminosos também têm direito a julgamento! E que isto só aconteceria na América de Buch. Afinal o democrata Obama também se não importa com o direito.
Deus proteja a América. Por isso não creio nele. E no Obama, foi-se aos poucos perdendo a crença.
O mundo enloqueceu e  a justiça é apenas fogo de artifício. E não é apenas em Portugal!