Não me lembro de terem construído os estendais. Certamente porque foram construídos antes de eu nascer. Mas, cresci a subir as escadas que serpenteavam entre eles e a brincar no milho a secar ao sol espalhado em mantas de fitas coloridas. E lembro-me do meu avô me contar como havia construído o seu estendal e a respectiva palheira.
São pequenos patamares ajeitados com cortes no xisto, que com o tempo viram uma pequena película de terra acumular-se na sua parca superfície.
Casualmente, precisei de indicar qual era exactamente o superfície do estendal do meu avô, minúscula parcela de terra que o meu pai me tinha dado.
Descobri que no estendal de baixo haviam começado os preparativos para construir uma casa. Eram evidentes os sinais de ganhar ao xisto o espaço para assentar os alicerces. Descobri, também, que para desbravar o terreno e cortar a rocha de base foi necessário haver a presença de um arqueólogo.
Pasmei! Exigir, neste caso a um particular, o pagameto da presença de um arqueólogo para olhar para máquinas e homens a desbravar a rocha virgem para afeiçoar o terreno onde se ia construir uma casa, não sei que classificação pode ter. Certamente, a mesma que se dará à obrigação da presença de um arqueólogo a olhar para homens e máquinas que abrem valas para introduzir tubos de electicidade, nas mesmas valas que três meses antes se haviam aberto, na presença de um aqruólogo (quem sabe se não era o mesmo!), para colocar tubos de gáz!
Um dia destes vou ter que reconstruir o muro do estendal ao Outeiro (Oiteiro), o muro construído pelo meu avô e que com esta obra acabou por cair em parte; certamente, para ser coerente, o IGESPAR vai solicitar a presença de um arqueólogo. Vou pagar-me a mim mesma para olhar para os pedreiros a fazer o seu trabalho. E nunca direi a ninguém que estou ali porque um organismo do estado obriga! E, sobretudo, nunca direi a ninguém que eu sou arquóloga e que este tipo de trabalho é uma forma de ganhar a vida! E farei questão de solicitar ao IGESPAR, porque se me afigura não haver justificação, que prescinda da ida dos seus técnicos para irem "fechar o trabalho". Sempre o estado poupa dinheiro em combustível e desgaste de viaturas!
Quem disse que muito do anda por aí a fazer-se em nome da Arqueologia é Arqueologia?
E será que a casa que o IGESPAR vai autorizar que se construa se vai parecer com aquela outra que o mesmo IGESPAR autorizou noutra parte do povo, depois de presente o arqueólogo para ver as fundações penetrarem quase até ao ribeiro, e nada ter registado?
A Arqueologia é..... Eu bem sei que não é nada disto!
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