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19/02/2012

o tempo de Beja


Abriram-se os telejornais com a notícia; nos últimos dias escreveram-se e disseram-se nos jornais e nas rádios muitos minutos de prosa sobre Beja.
Beja é uma pequena cidade, pacata e misteriosa como o sol abrasador que no Verão se lhe apega;  por entre as suas ruas,  como as dos Pintores,  da Guia,   da Muralha  do Sembrano e travessas de que se destaca a estranha da Audiência,  pode descobrir-se uma fascinante cidade que se não adivinha no casco mais moderno. Pequena e simples, surge belíssima quando se anda por ela. Desenha-se influenciada pela imponente  torre de menagem, as Igreja de Santa Maria e Santo Amaro, os conventos da Conceição e o de S. Francisco  e por tantos  outros espaços que lhe moldam a vida, produto que uma história de milênios lhe foi oferecendo.
Mas é um crime hediondo que traz Beja para a ribalta e que lhe dá protagonismo.
Acredito que é um crime ir  a Beja e não percorrer a cidade, descobri-la e quedar-se um pouco no seu tempo, que por ser  cúmulo de tantos tempos, se afigura uma eternidade. 
Não tenho dúvidas da interessante reportagem que a desmontagem deste outro haveria de constituir. Depois, num tempo em que tudo acontece  a correr,  encontrar o ritmo da vida que flui seria um enorme  privilégio. Jamais um fait divers!

05/02/2012

Ruínas

Nesta fase dos trabalhos em Beja, e pensando no destino que se dará ao local, lembrei-me do poema de Almada Negreiros          
                           Ruínas
Pandeiros rotos e coxas taças de cristal aos pés da muralha.

Heras como Romeus, Julietas as ameias. E o vento toca, em bandolins distantes, surdinas finas de princesas mortas.

Poeiras adormecidas, netas fidalgas de minuetes de mãos esguias e de cabeleiras embranquecidas.

Aquelas ameias cingiram uma noite pecados sem fim; e ainda guardam os segredos dos mudos beijos de muitas noites. E a lua velhinha todas as noites reza a chorar: Era uma vez em tempo antigo um castelo de nobres naquele lugar... E a lua, a contar, pára um instante - tem medo do frio dos subterrâneos.

Ouvem-se na sala que já nem existe, compassos de danças e risinhos de sedas.

Aquelas ruínas são o túmulo sagrado de um beijo adormecido - cartas lacradas com ligas azuis de fechos de oiro e armas reais e lisas.

Pobres velhinhas da cor do luar, sem terço nem nada, e sempre a rezar...

Noites de insónia com as galés no mar e a alma nas galés.

Archeiros amordaçados na noite em que o coche era de volta ao palácio pela tapada d'El-rei. Grande caçada na floresta--galgos brancos e Amazonas negras. Cavaleiros vermelhos e trombetas de oiro no cimo dos outeiros em busca de dois que faltam.

Uma gôndola, ao largo, e um pajem nas areias de lanterna erguida dizendo pela brisa o aviso da noite.

O sapato d'Ella desatou-se nas areias, e foram calçá-lo nas furnas onde ninguém vê. Nas areias ficaram as pegadas de um par que se beija.

Noticias da guerra - choros lá dentro, e crepes no brasão. Ardem círios, serpentinas. Há mãos postas entre as flores.
   
E a torre morena canta, molenga, doze vezes a mesma dor





03/02/2012

Beja: Imagens da Cidade Antiga

Beja - imagens da cidade antiga,  Beja  9 e 10 de fevereiro, 2012
Biblioteca Municipal José Saramago 

A investigação enquadra-se no âmbito do projecto Arqueologia das cidades de Beja; um projeto onde a cidade se encontra com a sua construção. 
É um projeto de arqueologia urbana que visa a salvaguarda do património e a produção do conhecimento.
Privilegiando uma abordagem que visa o encontro do conhecimento do passado com a cidade actual e a conjugação de ambos numa perspetiva de participação e desenvolvimento da comunidade, é um projeto que enquadra as suas lógicas de atuação nas Urban Historic Landscapes




PROGRAMA

26/12/2011

Encontros



Encontrei hoje um homem que desde criança, ou pré-adolescente  não via.
Era padre, sempre muito activo e inovador; gostava de ensinar e de fotografia. Era assim que eu me  lembrava dele; a maioria das minhas fotos desse tempo são de sua autoria.
Disse-me hoje que naquele tempo contactava muito com Maria de Lurdes Pintassilgo e que sempre se empenhou com zelo em implementar as ideias de progresso para as aldeias que com  ela debatia e partilhava.  Percebi coisas em que nunca tinha pensado e, claro, a idade não me tinha permitido,
Chama-se Manuel Fernandes (Padre Manuel, como era de todos conhecido) e em 1973 fez-me esta foto.
Encontrá-lo foi um grato presente e mais um feliz regresso a casa.