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26/12/2011

Encontros



Encontrei hoje um homem que desde criança, ou pré-adolescente  não via.
Era padre, sempre muito activo e inovador; gostava de ensinar e de fotografia. Era assim que eu me  lembrava dele; a maioria das minhas fotos desse tempo são de sua autoria.
Disse-me hoje que naquele tempo contactava muito com Maria de Lurdes Pintassilgo e que sempre se empenhou com zelo em implementar as ideias de progresso para as aldeias que com  ela debatia e partilhava.  Percebi coisas em que nunca tinha pensado e, claro, a idade não me tinha permitido,
Chama-se Manuel Fernandes (Padre Manuel, como era de todos conhecido) e em 1973 fez-me esta foto.
Encontrá-lo foi um grato presente e mais um feliz regresso a casa.

24/11/2011

Dia de Greve

Chile
Hoje é dia dos poetas. Falaram do povo pelas ruas e da importância de resistir à indiferença  por isso, cada vez que o povo desce as ruas, os poetas raiam por aí. Pensar em Brecht é quase óbvio. Mas há muitos, muitos outros. E milhares que não tendo poema escrito desfilam em passos de poesia.
É preciso sair à rua.  É, um dever. Dever de mostrar o direito e a vontade de participar ativamente na construção da cidade.
Penso dos partidos todos o que falo de cada um deles. Faço greve, não porque fui “arrebanhada”. Faço greve porque viver e trabalhar com dignidade é uma obrigação.

11/11/2011

Tempos de revolta


O dia foi duro. Os idosos, aposentados e estudantes perderam o direito adquirido de desconto em 50% nos passes sociais. Quem me dera acreditar que esta medida não vai impedir os idosos de irem ao jardim, ao mercado, enfim, à rua! Quem me dera pensar que esta medida não terá impacto na frequência escolar das crianças!
Quem me dera pensar....que... 
Mas, chegando  a casa, depois de um dia de trabalho e uma semana de notícias que informam que em breve seremos pobres, — embora o jovem Ministro da Segurança Social nos traquilize , dizendo-nos que vai haver umas instituições que nos garantirão sopa e pão, talvez, vinho, também (esse alimento maravilhoso que em tempos ainda não esquecidos, juntamente com a sardinha, alimentava os portugueses) para irmos sobrevivendo, é sobre o campo enlameado de Zenica que na televisão  se vão ouvindo queixumes.
Discute-se o orçamento de estado, os portugueses empobrecem e é contra a UEFA que se mobiliza a nossa revolta! Conhecemos a táctica!
Começa o telejornal e e o futebol  surge como notícia primeira; a história do Ronaldo que foi insultado(???) de Messi.
Acredito, claro que acredito,  com tanta coisa para nos adormecer, que eles ainda nos vão roubar o céu! céu.
E eu que gosto tanto de futebol! E do céu. Este é o da minha aldeia, sábado passado, e é do mundo todo

09/11/2011

Arqueologia no Outeiro



Não me lembro de terem construído os estendais. Certamente porque foram construídos antes de eu nascer. Mas, cresci a subir as escadas que serpenteavam entre eles e a brincar no milho a secar ao sol espalhado em mantas de fitas coloridas. E lembro-me do meu avô me contar como havia construído o seu estendal e a respectiva palheira.
São pequenos patamares ajeitados com cortes no xisto, que com o tempo viram  uma pequena película de terra acumular-se na sua parca superfície.
Casualmente, precisei de indicar qual era exactamente o superfície do estendal do meu avô, minúscula parcela de terra que o meu pai me tinha dado.
Descobri que no estendal de baixo haviam começado os preparativos para construir uma casa. Eram evidentes os sinais de ganhar ao xisto o espaço para assentar os alicerces. Descobri, também, que para desbravar o terreno e cortar a rocha de base foi necessário haver a presença de um arqueólogo.
Pasmei!  Exigir, neste caso a um particular, o pagameto da presença de um arqueólogo para olhar para máquinas e homens a desbravar a  rocha virgem para afeiçoar o terreno onde se ia construir uma casa, não sei que classificação pode ter. Certamente, a mesma que se dará à obrigação da presença de um arqueólogo a olhar para homens e máquinas que  abrem  valas  para introduzir tubos de electicidade, nas mesmas valas que três meses antes se haviam aberto,  na presença de um aqruólogo (quem sabe se não era o mesmo!), para colocar tubos de gáz!
Um dia destes vou ter que reconstruir o muro do estendal ao Outeiro (Oiteiro), o muro construído pelo meu avô e que com esta obra acabou por cair em parte; certamente, para ser coerente,  o IGESPAR vai solicitar a presença de um arqueólogo. Vou pagar-me  a mim mesma para olhar para os pedreiros a fazer o seu trabalho. E nunca direi a ninguém que estou ali porque um organismo do estado obriga! E, sobretudo, nunca direi a ninguém que eu sou arquóloga e que este tipo de trabalho é uma forma de ganhar a vida! E farei questão de solicitar ao IGESPAR, porque se me afigura não haver justificação, que prescinda da ida dos seus técnicos  para irem "fechar o trabalho". Sempre o estado poupa dinheiro em combustível e desgaste de viaturas! 
 
Quem disse que muito do anda por aí a fazer-se em nome da Arqueologia é Arqueologia?
E será que a casa que o IGESPAR vai autorizar que se construa se vai parecer com aquela outra que  o mesmo IGESPAR autorizou noutra parte do povo, depois de presente o arqueólogo para ver as fundações penetrarem quase até ao ribeiro, e nada ter registado?
 A Arqueologia é..... Eu bem sei que não é nada disto!